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O protagonismo real do professor e do aluno garante o lugar da sua IES no futuro do Ensino Superior?

  • Foto do escritor: Diego Amaro
    Diego Amaro
  • 6 de mai. de 2022
  • 6 min de leitura

Utopia? Heresia? Ciência?





A pandemia da Covid-19 trouxe desafios imensos ao setor educacional, no Brasil e no mundo, em todos os seus níveis, desde a educação básica ao ensino superior. Este cenário impactou, sobremaneira, as IES e colocou seus gestores frente a dilemas e desafios nunca vistos e que exigiram uma resposta rápida e consistente.


Os gestores, se quiserem fazer parte do futuro do ensino superior, terão que ir mais além e optar por uma mudança paradigmática curricular radical nos seus Projetos Pedagógicos Institucionais, contando com professores qualificados, com mestrado e doutorado, como exige a legislação, os quais, além da qualificação, deverão também possuir formação para a docência, a qual é uma profissão e exige uma profissionalidade que integra profissionalização e profissionalismo.


Muito se fala que, para atender às necessidades impostas pelo momento atual, é preciso inovar, enxergar à frente, antecipar-se, construir novas trilhas. Isto vale para as instituições e para os professores. Como as IES estão conduzindo seus processos de inovação curricular e suas propostas de formação de professores? Em todo esse complexo cenário, a participação dos professores é de fundamental importância na consolidação de mudanças que tragam efetivamente uma melhoria da qualidade de ensino. Sem o aval dos professores, mudanças não se realizam. O ensino superior não fará frente aos desafios postos pela contemporaneidade, se não colocar no centro de suas preocupações as questões relativas à identidade, às condições de trabalho e à profissionalização docente.


Discurso Inovador das IES


Entretanto, nos encontros de inovação acadêmica pelo país, os gestores das IES enfatizam a exaustão, os ingredientes necessários para se destacarem no cenário do ensino superior: profissionalização de gestores e mudança na postura dos professores. Vejamos alguns exemplos explicitados por especialistas ao apresentarem suas indicações para o sucesso das IES: mais aprendizagem e menos ensino; mais atividades “hands on”, experimentação e menos aulas expositivas; ensino híbrido e aprendizagem invertida; tecnologia como ferramenta dinamizadora do processo educativo; currículo como motor da inovação, mais aderente às exigências do mundo real, interdisciplinares, promotores do desenvolvimento de competências; e novos processos avaliativos com foco em desempenhos e competências. Pouco ou nada se refere aos sujeitos do processo formativo nas IES em nossa visão: professores e alunos.


Há referências aos professores nos seguintes termos: o professor também precisará se reinventar e, como um tutor, terá como missão fazer o aluno aprender, acompanhando o de perto, provocando discussões, e, com isso, conduzir o estudante a alcançar o seu projeto de desenvolvimento acadêmico. Essa realidade é possível a partir de um ensino a distância com professores capacitados e recursos tecnológicos adequados.


Interessantes caminhos. Mas faço algumas indagações necessárias: como o professor se reinventará? Como se tornará um tutor, um mentor? Como fará o aluno aprender? Como o acompanhará de perto rumo à concretização de seu projeto acadêmico? Como viabilizar um ensino a distância com professores capacitados? Capacitados em quê? O professor do ensino superior no Brasil está capacitado para essas atribuições, as quais também julgo necessárias e primordiais?


Minha experiência de trinta e dois anos em instituições de ensino superior, especialmente no setor privado, no Brasil, embasa meu posicionamento quanto à necessidade desse profissional qualificado em todas as dimensões da competência docente, mas indica também que as IES, salvo raríssimas exceções, não investem, como deveriam, na formação continuada desses profissionais, embora proclamem aos quatro ventos que o fazem, entendendo que a profissionalidade docente se constrói apenas com semanas de planejamento, palestras esporádicas e treinamento em determinadas tecnologias da moda.


Docência universitária e formação docente


Nós, professores universitários, precisamos encarar de frente a realidade presente em toda sua complexidade e principalmente assumir nossa identidade profissional: professor, em primeiro lugar; e num contexto específico, o ensino superior.


Docência universitária não é bico, complementação de renda, possibilidade de status, espaço para network, e talvez outras possibilidades mais. É profissão, exige formação profissional, conhecimento de Pedagogia Universitária, pesquisa, atualização, desenvolvimento de habilidades/competências, atitudes “hard skills” e “soft skills”. Ouso afirmar: não é qualquer um que pode ser professor. Docência não é para qualquer pessoa. Por isso, não é qualquer professor que consegue fazer frente a esses desafios. É preciso um professor que exerça uma docência da melhor qualidade.


Assim, é fundamental a confluência entre os esforços e o compromisso da instituição de ensino superior e de seus profissionais na busca da qualidade, pois sem essa política de integração é pouco provável que as iniciativas que visem à excelência na oferta dos serviços do ensino superior se efetivem.


É preciso um professor que exerça – e uma instituição que garanta – uma docência da melhor qualidade. Todo crescimento em relação à qualidade passa por um maior esforço em investimentos institucionais e organização de estratégias formativas e, ao mesmo tempo, por um desenvolvimento mais consciente da ação docente.


Do docente exige-se, então, além da competência teórica em específicas áreas do saber, o desenvolvimento de um processo de formação permanente em que a prática docente seja fundamento para a reflexão e que nele desenvolva a postura de profissional reflexivo, pesquisador e detentor da própria prática.


Embora com mestrado e doutorado, as exigências permaneceram as mesmas: domínio de conteúdo em determinada matéria e experiência profissional. Com a mudança do cenário socioeconômico e cultural, com a alteração do perfil da clientela escolar, especialmente nas instituições privadas, e com as novas demandas de um mundo dominado pelo avanço tecnológico, só recentemente os docentes universitários e as próprias instituições de ensino superior começaram a se conscientizar de que o papel de professor universitário exige uma profissionalização própria e específica e que não se esgota no diploma de bacharel, ou mesmo de mestre ou doutor, ou ainda no exercício com sucesso de uma profissão, mas exige uma dimensão didático-pedagógica, ética, estética, comunicacional, social.


Portanto, exige uma formação específica e uma competência singular: a competência pedagógica, pois ser professor no ensino superior pressupõe, também, a postura de educador. Coloca-se em xeque a crença de que quem sabe, automaticamente sabe ensinar.

Assim, ressalto e reitero minha afirmativa que vem no topo desta reflexão: só o efetivo protagonismo real do professor e do aluno garantirá o lugar da sua IES no cenário futuro do ensino superior.


Já pontuamos o protagonismo real do professor. E o aluno?


A docência, em qualquer um dos níveis de ensino, não é uma tarefa solitária, unilateral, autossuficiente. Ela existe em função do aluno. Sem aluno, não há docência. Que lugar ocupa o aluno na nossa docência universitária? Ser professor universitário é encarar uma carreira que tem por fundamento constituir um caminho, um método que otimize um processo de interlocução entre dois sujeitos, essencialmente diversos, professor e aluno, no diálogo, no confronto e na aquisição de novos conhecimentos. Portanto, baixemos a guarda, recolhamos nossa arrogância e nossa empáfia, que muitas vezes nos assolam.


Nesse sentido, ser professor do ensino superior é algo desafiador, pois o docente necessita inventar e reinventar o seu fazer diário. O fazer aula pode ser entendido como uma busca constante para transformar velhos conteúdos em temáticas interessantes e atualizadas. Como se diz na linguagem teatral, o protagonista (professor) precisa “dar cor ao texto”, isto é, o docente precisa apresentar seu conteúdo de forma criativa, de modo a despertar o interesse do protagonista (aluno). Para isto é preciso conhecer a ciência da educação, seus fundamentos, seus métodos, suas técnicas, suas estratégias.


Nesse sentido, na perspectiva da educação inovadora para o ensino superior, o planejamento didático torna-se mais complexo, pois estará prevendo a organização de situações de aprendizagem que ocorrerão em um novo paradigma. Amplia-se o foco para o desenvolvimento do “saber, saber fazer e saber ser” para a formação profissional, a partir de um processo de ensino centrado no aluno e que utiliza propostas curriculares diferenciadas, metodologias ativas, estratégias colaborativas, em ambientes presenciais e virtuais, e processo de avaliação formativo.


Optar por práticas inovadoras é buscar constantemente alternativas para desenvolver com nossos alunos um processo de aprender interessante e significativo que lhes proporcione uma efetiva formação profissional. Decidir por uma prática inovadora significa planejar e replanejar constantemente. Exige um planejamento didático responsável, crítico, e um complexo processo de análise, previsão e tomada de decisão sobre cada situação de aprendizagem.


Será necessário identificar necessidades individuais e coletivas da turma; estabelecer prioridades e objetivos; selecionar conteúdos pertinentes, métodos, estratégias e alternativas de ação adequadas, espaços de estudos apropriados; definir responsabilidades do professor e dos alunos; racionalizar recursos, tempo e energia; e ajustar critérios, processos de avaliação e feedbacks contínuos.


Temos a convicção de que a instituição que investir no processo de formação do professor e do aluno de forma científica e efetiva garantirá seu lugar no futuro do ensino superior.

Será utopia? Bem, é a utopia que nos move e nos faz avançar. Pode não acontecer hoje, amanhã, mas o futuro dirá.


Heresia? Estamos desafiando dogmas antigos e enraizados no contexto do ensino superior? Talvez. Mas o futuro dirá. Instituição de ensino superior é um empreendimento educacional, não um mero negócio.


Ciência? Defendemos essa ideia. Educação não se faz com belos discursos, com boas intenções, mas sim com investimentos e ações efetivas, as quais são embasadas cientificamente nas Ciências da Educação, que constituem o alicerce das agências educacionais desde a educação básica ao ensino superior.


Ficamos com a Ciência.


Sempre

 
 
 

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